Um espresso, por favor.
A balconista aciona a máquina. Depois, coloca a xícara fumegante sobre o balcão de mármore.
Dou o primeiro gole. Como se ouvisse um palavrão, a atendente dilata os olhos: você bebe sem açúcar?
É uma pergunta recorrente há pelo menos doze anos, quando o açúcar foi embora do meu café. Parece que Chico Buarque e Nara Leão construíram uma imagem definitiva a respeito do assunto por meio dos versos de “Com açúcar, com afeto”. Renunciando ao alimento predileto dos apaixonados e das formigas, entrei para um tipo de seita.
Nem sempre foi assim. Venho de uma família cuja tradição é ferver o açúcar na água. Alojado no coador, o pó recebe um melaço antes de escorrer pela garrafa. O resultado é uma mistura de aroma gelatinoso. A superfície líquida parece um espelho, uma pedra polida. Houve uma época em que era tendência despejar aquilo no miolo…
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